Educação para a comunicação social

Reproduzo abaixo texto do professor Manuel Pinto, de Portugal, que muito tem contribuído para nossa reflexão sobre a relação Mídia-Educação.

Desafio: Contar os pontos pretos

Texto de Manuel Pinto/ Educomunicação
Porquê "Educação para a Comunicação Social"? Foi esta a pergunta que deixei em suspenso, no post do passado dia 28. Aqui fica um primeiro ensaio de resposta. Telegráfico, como um post costuma ser.

Educação para os Media já era um conceito corrente lá fora, nomeadamente na Europa e na Austrália. "Media Education", "Éducation aux Médias" são designações de uso frequente desde pelo menos os anos 80. Na altura, em Portugal, não se pode dizer que fosse uma nomenclatura muito conhecida e, para ser franco, à medida que me fui embrenhando nestes assuntos, não era aquela que mais me agradava. Afinal, que sentido faz educar "para os media"? Para todos os media? Para o que quer que seja que os media façam e difundam? Tem cabimento tomar os media como um objectivo da educação, como se diz, por exemplo, educar para a autonomia ou para a cidadania?

Foi por isso que, perante a necessidade de dar nome a uma nova esfera de formação, instituída na Universidade do Minho, a partir do ano lectivo de 1988-1989, eu tenha optado por Educação para a Comunicação Social. Não posso dizer que tenha sido, nessa opção, excessivamente original. Afinal, na América Latina, em especial, e no Brasil, em particular, tinha-se tornado frequente, naquela altura, a proposta e o uso do conceito de Educação para a Comunicação ou, condensando os termos, Educomunicação.

Fica, por conseguinte, explicitado porque não se adoptou, há 22 anos atrás, a designação de Educação para os Media. Mas não se justificou ainda os argumentos a favor de Educação para a Comunicação Social.

A Comunicação Social é correntemente associada aos meios de difusão colectiva (ou mass media), mas o conceito é mais amplo e engloba o conjunto de processos e de práticas de comunicação, na sociedade. Neste sentido, configura-se como um meio, mas, ao mesmo tempo, como um fim da vida social. A comunicação é, assim, uma dimensão constitutiva da sociedade, sendo importante - e mesmo determinante - que todos aprendam a comunicar bem, no sentido de ouvir, informar, partilhar e participar, concorrendo para a construção da vida de uma dada comunidade.

A Educação para a Comunicação Social é, pois, a formação que deve ter como objectivo último a aquisição e prática da comunicação, nos seus diferentes níveis e modalidades, dando particular ênfase às formas de comunicação mediada. De facto, o extraordinário desenvolvimento dos media de massas, sobretudo na segunda metade do século XX, com a televisão e o seu impacto no espaço doméstico, tornou necessária a aprendizagem de atitudes e comportamentos críticos e activos, quer no plano da leitura das mensagens, quer na compreensão dos seus contextos e lógicas de produção, quer dos quadros sociais de uso e apropriação.

A Internet, o telemóvel, os jogos vídeo e as redes sociais só vieram tornar aquele desiderato mais premente, nos últimos 15 anos. Aprender a comunicar (não apenas eficientemente, mas de forma significativa) tornou-se um desafio crucial nos tempos que vivemos. E também paradoxal, visto que temos aparentemente os recursos tecnológicos (ainda que distribuídos de forma assimétrica), mas eles não garantem de per si que comuniquemos bem (ou sequer melhor do que antes) uns com os outros, nas situações do dia a dia, seja entre colegas e amigos, seja na família, no trabalho ou na escola.

Foi por isso que apostámos na Educação para a Comunicação Social. Que chegou a ter um desenvolvimento bastante expressivo e que hoje já não existe como tal. Porquê? Eis o que procurarei apresentar em breve.

Obs: Para ver o primeiro post do professor Manuel Pinto, ao qual o texto acima refere-se, basta clicar aqui.
Fonte: Professor Manuel Pinto/Educomunicação

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