Ana Brambilla: ‘o curador da informação não pode mais caminhar separado de um curador do relacionamento com o público’

A jornalista e pesquisadora Ana Brambilla é responsável pela edição do e-book coletivo 'Para Entender as Mídias Sociais', obra que reúne o pensamento de 35 autores em textos que focam os temas Bases, Mercado, Redação, Persona e Social. O livro, que pode ser acessado gratuitamente, registra ideias e reflexões de estudiosos e profissionais de mercado sobre questões que relacionam as mídias sociais com os diversos segmentos da sociedade e da comunicação.

Para Ana, que já foi editora de mídias sociais no portal Terra e editora de conteúdo colaborativo na Editora Abril, "o curador da informação prosperou de maneira focada no veículo e não na rede de colaboradores". Confira a seguir entrevista com Brambilla que atualmente também assina projetos de consultoria em mídias sociais na cooperativa digital Polipress:

Nós da Comunicação – Afinal, o que é preciso para compreender as transformações e os impactos gerados pela revolução das mídias sociais?
Ana Brambilla – É preciso entender, antes de qualquer coisa, que mídias sociais são um fenômeno multifacetado e interdisciplinar, que abrange um sem-número de setores da sociedade. O que buscamos trazer neste livro são algumas das áreas que estão ancorando esta revolução, talvez pela característica de seus profissionais - alguns mais ligados à tecnologia, outros preocupados com o impacto social, outros ligados na esfera midiática que está intrínseca ao meio como o próprio nome já diz: ‘mídias’ sociais.

Nós da Comunicação – Um dos temas abordados em sua primeira entrevista ao nosso site relacionava-se com a mudança da atuação do jornalista na era das mídias digitais e da colaboração. De 2008 para cá, como evoluiu essa questão? O jornalista assumiu seu papel de 'curador das informações' ou hoje desempenha outra função? Qual?
Ana Brambilla – O curador da informação prosperou de maneira focada no veículo e não na rede de colaboradores. Explico: o jornalista mais antenado atualmente, que dá importância e procura o conteúdo produzido pelo usuário e que faz uso das mídias sociais existe hoje em algumas redações, na figura do editor de mídias sociais. Mas o foco desse profissional, na maioria das vezes, ainda é a geração de audiência e o benefício único do veículo para onde trabalha. Ou seja, não há preocupação em educar o público para que as colaborações cresçam em número e em qualidade, em fidelizar o colaborador por meio das redes sociais, em ser gentil e manter um diálogo com o público presente nessas redes, de modo a valorizar capitais intangíveis da empresa jornalística. Diria que, se o curador da informação já existe, ele não pode mais caminhar separado de um curador do relacionamento com o público.

Nós da Comunicação – Quais assuntos se destacam no capítulo 'Redação', que tem como foco o uso das mídias sociais pelos comunicadores e seus desdobramentos?
Ana Brambilla – Coberturas participativas; relevância de perfis jornalísticos em mídias sociais; as mudanças que as mídias sociais promovem na narrativa jornalística digital; como essas redes de relacionamento interferem na visão de tempo-real nas redações; possibilidades de se usar mídias sociais no jornalismo online e quais as interfaces que as mídias sociais mantêm com meios tradicionais como a TV.

Nós da Comunicação – Baseando-se na parte do livro que propõe uma reflexão sobre o mercado, incluindo os pontos de vista das agências de comunicação, das empresas e marcas e suas relações com o novo consumidor - de produtos e de informação - em que nível de desenvolvimento estão as organizações brasileiras?
Ana Brambilla – Pelas ideias e exemplos apresentados pelos autores dos artigos desse núcleo, as empresas brasileiras ainda estão no nível do aprendizado conceitual, ou seja, tentando entender a lógica das mídias sociais. Eu diria que é um estágio bastante inicial em que noções como capital social, buzz, reputação e capitalização por meio dessas redes não são conceitos de domínio comum, mas existe um esforço grande para aprender pelo modelo ‘tentativa e erro’, o que pode não ser o mais adequado quando se lida com uma exposição tão grande quanto a provocada pelas mídias sociais. Mas as nossas agências de comunicação que têm enfoque nessa área parecem estar num estágio de amadurecimento avançado, pronta para atuar na evangelização da cultura de mídia social dentro das organizações e dos maiores anunciantes.

Nós da Comunicação – No relatório 'Freedom on the net', divulgado recentemente, o Brasil foi classificado como uma nação que goza de liberdade na internet. Entretanto, o estudo indica vários 'gargalos' em questões como dificuldade de acesso, limites ao conteúdo e violação de direitos dos usuários. Que contribuições o núcleo social do livro, que reúne artigos sobre política e diversas forma de mobilização, pode dar para essas discussões?
Ana Brambilla – Os artigos integrantes desse núcleo social denunciam, de modo geral, a deficiência de esferas públicas, políticas e privadas aqui do Brasil em relação à exploração adequada das mídias sociais com vistas à liberdade de expressão e horizontalização de processos de produção do conhecimento. Creio que este capítulo do livro seja fundamental para apontar as carências que o país sofre em termos de ampliação do uso das mídias sociais para o bem comum e, quem sabe, promover alguma mudança no direcionamento de ações que visem à inclusão digital sob moldes realmente igualitários.

Fonte: Nós da Comunicação 26/04/2011

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