Morreu o pedagogo e comunicólogo Pierre Babin

Por Manuel Pinto - Universidade do Minho
Chega-nos a notícia da morte de Pierre Babin, ontem ocorida (09/05), em Lyon, França. O nome não dirá provavelmente muito a muitos leitores, a não ser a quem se interessou por um livro seu, não há muitos anos editado em Portugal - "Linguagem e Cultura dos Media" - que hoje se encontra esgotado e apenas disponível em algumas bibliotecas. No entanto, Babin é um nome de referência internacional, no cruzamento da comunicação com a educação.
Influenciado por autores aparentemente tão diferentes como C.G. Jung (psicanálise e cultura, antropologia do simbólico) ou por Marshal McLuhan, com quem trabalhou e publicou, Pierre Babin nasceu em França, em 1925, filho de comerciantes, numa família muito religiosa. Dessa fase guardou um "fascínio pelo sagrado", mas igualmente "o sentimento da opressão de uma moral que não se discute". Fez-se padre nos Oblatas, mas sempre com grandes inquietações e, em alguns momentos, bastantes dúvidas. Acabaria a trabalhar num colégio, na formação de adolescentes, em cujo meio foi amadurecendo a ideia de que era necessário educar de outro modo, tirando partido da energia, da sensibilidade e das potencialidades desta fase da vida. Sobretudo, vai-se tornando nítido, para ele, que, na educação em geral e na educação religiosa em particular, importa não partir da teologia ou do dogma, mas da vida dos educandos. A partir de finais dos anos 50, vai dar aulas e estudar para o Canadá e visita os Estados Unidos. Abre-se a uma perspetiva universalista que vai crescer à medida que as suas obras (inicialmente centradas na educação religiosa dos adolescentes) vão sendo conhecidas e traduzidas. Viaja por um grade número de países, entre os quais Portugal.
No seguimento da interpelação de um pastor suiço, que o alertou para o facto de, naqueles anos 60, as pessoas "falarem audiovisual", começa a desenvolver propostas nesse terreno. Propõe o método de animação de grupos que designou por "fotolinguagem", no âmbito do qual cada grupo recebe vinte fotos e é convidado, através do diálogo, a identificar um valor associado a cada uma delas.
A verdadeira "revolução coperniciana", no entanto, vai ser, para ele, o encontro com as ideias de propostas de McLuhan, que lhe dá a noção de que o audiovisual não é apenas uma outra linguagem, mas um outro modo de ser e de comunicar, uma nova cultura, no qual, a par da razão, se resgata a emoção, a afetividade, a subjetividade. Estas novas perspetivas desenvolvem-se a partir de um centro de formação internacional que criou em Lyon, o CREC-AVECX. O seu laboratório vai progressivamente apostar na noção de "group media" (em contraposição a mass media), ferramentas simples, facilmente acessíveis,construídas e multiplicadas (montagens, recortes, sons, diapositivos, pequenos filmes...), resultado de percursos pedagógicos que partem das experiências das pessoas, traduzidas/ilustradas em imagens e em sons, através da (e tendo como resultado) a palavra). Os seus livros, propondo ideias novas salientam-se sempre por serem fruto de experiências. Por alguma razão boa parte deles, a partir dos anos 70, são coletivos. Para ele é preciso sentir, para compreender. O sentido advém da sensação e da emoção, em situação de imersão. "A compreensão é fruto da distância que se estabelece depois da imersão", sublinha ele no livro "Novos modos de compreender", que assina com a psicóloga Marie-France Kouloumdjian.
Uma nota: a influência de Babin em Portugal poderia ser objeto de uma pesquisa. Bastará dizer que é desta escola que 'nascem' profissionais como o Cónego António Rego, o docente de cinema da UCatólica Carlos Capucho ou o jornalista da TSF Manuel Vilas Boas, que, após a sua estadia no CREC, em Lyon, ousaram lançar, em 1979, no serviço público o programa televisivo 70x7.

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