A luta do momento


Por Suzana Singer
Na dura travessia para um modelo de negócios que não dependa só do impresso, jornais precisam investir em qualidade para fidelizar o internauta
O "NEW York Times" anunciou na quinta-feira passada que, pela primeira vez em sua história, a receita de circulação ultrapassou a obtida com a publicidade. A ombudsman de lá saudou: "Aviso ao leitores: vocês importam. E importam agora mais do que nunca".
Trata-se de uma mudança importante. Nos últimos anos, o "NYT", assim como a maioria dos jornais norte-americanos e europeus, viu diminuir lenta, mas continuamente, a venda dos exemplares impressos, ao mesmo tempo que a publicidade sofria uma queda vertiginosa.
A saída foi tentar convencer o internauta a pagar por informação. Deu certo para o "NYT", que em quase dois anos vendeu 640 mil assinaturas digitais.
O problema é que a receita obtida da circulação virtual não cobre o rombo causado pela perda de anunciantes no impresso. A publicidade nos sites jornalísticos ainda é tímida, porque o dinheiro grosso vai para sites especializados e para o Google -daí os embates, em muitos países, inclusive no Brasil, entre as empresas de comunicação e o gigante da internet para forçá-lo a pagar pelo conteúdo indexado.
O resultado negativo dessa conta implica "cortes de custos", que se materializam em demissões sucessivas nas Redações, já sobrecarregadas com a produção on-line.
Essa transição dolorosa do modelo de negócio baseado exclusivamente no impresso para um misto de papel com internet acontece também aqui, embora em um ritmo menos frenético.
A Folha foi a primeira a importar o "paywall poroso", em que o internauta pode ler de graça uma certa quantidade de notícias, mas depois precisa se cadastrar e, por fim, pagar. A cobrança foi implantada em junho do ano passado e o jornal tem hoje 45 mil assinaturas digitais, o que corresponde a cerca de 15% da circulação total. É um bom número, considerando-se a grande oferta de notícias gratuitas na rede e o fato de os assinantes do UOL terem livre acesso ao conteúdo da Folha.
Ao mesmo tempo, é um número ínfimo em comparação com os 20,5 milhões de visitantes únicos que o site recebeuem janeiro. Provavelmente, a maioria dos internautas não consome uma quantidade suficiente de notícias que o leve a ser barrado pelo "muro de cobrança".
Na Folha, dá para ler 40 textos por mês de graça -dois por dia útil, o que parece pouco. As notícias mais clicadas são geralmente as que falam de celebridades ou as que resvalam em sexo.
A verdade é que, apesar de comemorarem as vultosas cifras de audiência on-line, os jornais ainda não descobriram o tamanho real do seu público na internet, aquele que, interessado em informação, acharia justo pagar por ela.
Enquanto a rede não se prova um ambiente rentável, as empresas tradicionais de comunicação não investem pesadamente para melhorar seus sites.
Basta navegar pelas principais "homes" de notícias brasileiras para perceber que os textos parecem despachos de última hora. São poucos os "furos" (informações exclusivas), faltam grandes reportagens e a parte visual, de vídeos e infográficos, não foi feita pensando na internet. Em abundância, encontramos apenas opinião, graças à presença de dezenas de colunistas e blogueiros, que provocam algum barulho e custam pouco às empresas.
Se o caminho a ser seguido é o do "New York Times", empenhado cada vez mais em cativar o internauta, é preciso apostar no que diz o seu publisher, Arthur Sulzberger Jr.: "Jornalismo de qualidade atrai leitor de qualidade, que atrai anúncios de qualidade". Oxalá seja verdade.

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