Para educar crianças feministas - Manifesto poético por uma educação igualitária

Por Cristiane Parente (RESENHA)

No início dos anos 2000, quando li “O Livro dos Abraços”, do Eduardo Galeano, depois de estudar sobre ele numa aula de literatura, apaixonei-me e passei a dá-lo de presente para todas as pessoas que faziam aniversário, como se pudesse passar através de dele toda a felicidade que senti ao lê-lo.
Enchi-me novamente dessa sensação de plenitude com o novo livro de Chimamanda Ngozi Adichie. Como não posso dar um para cada pessoa que conheço, vou escrever um pouquinho sobre ele, na esperança de que após a leitura desta pequena resenha, cada um de vocês vá correndo à livraria mais próxima comprar um exemplar para e si e outro de presente, como uma corrente do bem, de boas energias, para fazer um mundo melhor.
Para quem não a conhece, Chimamanda é uma das mais importantes escritoras contemporâneas, nasceu na Nigéria e tem conquistado o mundo com os livros Meio Sol Amarelo, Hibisco Roxo, A coisa à volta do teu pescoço, Americanah e Sejamos todos feministas (discurso feminista na conferência internacional TED e depois transformado em livro).
Ela retorna agora em 2017 com “Para educar crianças feministas – Um Manifesto” um livro de extrema delicadeza que deveria estar em todas as casas, escolas, bibliotecas e ser lido por todas as pessoas, especialmente aquelas que querem colocar uma criança no mundo. Uma pequena obra no tamanho, mas enorme no propósito de combater o preconceito e lutar pela igualdade de gêneros a partir da educação.
O livro é na verdade uma carta de Chimamanda a uma amiga que acaba de ser mãe de uma menina. Nele a autora dá quinze sugestões de como educar uma criança dentro de uma perspectiva feminista e igualitária.  Mas antes de tudo, como ajudar essa criança a ser ela própria, a dar valor a si própria, a cultivar amor próprio e ter orgulho de si e de sua cultura.

Chimamanda Adichie
Chimamanda tem uma generosidade e um olhar que o mundo precisa aprender a cultivar. Um olhar que a mulher precisa ter para ela própria e para outra mulher, que a permita ser completa, integral, feliz como mulher, mãe, trabalhadora, sem abdicar dos seus sonhos.
A autora nos faz refletir sobre como a forma como a sociedade educa as meninas para ver o casamento como uma realização e um prêmio _ diferente do que faz com os meninos _ já cria condições desiguais na maneira como cada um encara a relação e seu papel dentro dela, o que impacta o seu comprometimento e uma série de questões futuras. Por que isso acontece? De que forma frases como a que ouvimos há séculos “ele ajuda em casa” reforçam o papel secundário do homem nas tarefas domésticas? Como podemos mudar isso a partir da educação que damos a nossos filhos?
Quantas vezes ouvimos alguém dizer que uma menina não pode fazer algo porque é uma menina? Papéis de gênero fazem algum sentido? Por que mulheres poderosas causam tanto desconforto a homens e mulheres? São apenas algumas entre tantas reflexões propostas aos leitores. 
A autora sugere ainda que estimulemos as crianças a ler muito, porque a leitura ensinará a questionar o mundo. E mais que questionar o mundo, o importante é questionar a linguagem, porque é nela onde residem nossos preconceitos .

Ser corajosa, gostar de si, ter auto-estima, respeitar e reconhecer as diferenças, aprender a dialogar são mais outras entra tantas sugestões que você poderá ler numa conversa deliciosa com Chimamanda e que, ao final dela, sua vontade será compartilhar o livro com todos que você conhece, especialmente aqueles que estão iniciando a jornada tão especial de educar um ser humano e fazer um mundo um lugar mais justo e igualitário para se viver.

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