Telenovela pode ajudar no processo educativo

As telenovelas podem ajudar os professores a aguçar o interesse dos jovens em aprender e a reforçar o papel educador da ficção, quando trazida para a realidade. Em sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Educação, Aline Martins Coelho descobriu que os adolescentes querem discutir temas de novelas em sala de aula, com debates sobre direito de cidadania e cultura midiática.

“Minha preocupação era identificar formas de criar um vínculo entre professor e aluno. Um instrumento que permitisse a discussão de temas pertinentes, que chamasse a atenção dos alunos", explica Aline, autora da dissertação Telenovela como instrumento de discussão sobre direito de cidadania: potencial e limites. "A telenovela pode exercer esse papel, por ser objeto de interesse dos jovens. A novela Caminho das Índias é um dos exemplos que tratam de cidadania”.

Aline escolheu um colégio público localizado no centro de Palmas, no Tocantins, para realizar a pesquisa. A primeira fase consistiu em questionário aplicado para 68 alunos do 1º ano do ensino médio, de 14 e 15 anos, para traçar o perfil socioeconômico e as preferências culturais em relação à mídia. Depois, dez alunos, cinco meninas e cinco meninos, assitiram a um vídeo de 15 minutos com cenas selecionadas da novela Caminho das Índias.

Os alunos então foram instigados a refletir sobre a influência da televisão e sobre a possibilidade de debater na sala de aula e em casa os assuntos tratados pela trama. Principalmente sobre personagens à margem da convivência social, em luta para amenizar as desigualdades.

DIÁLOGO - Mesmo a televisão fazendo parte do cotidiano das famílias, Aline descobriu que o diálogo sobre os programas de TV tanto em casa, como na escola, não acontece com a frequência e da forma como os alunos gostariam. “A influência da televisão, ou da telenovela, não é determinante. O aluno associa a informação da TV de uma forma geral. Dependendo da vivência em casa, aí sim, pode gerar uma reflexão sobre determinados comportamentos”, explica Aline.

Na pesquisa, os jovens reivindicam espaço dentro da escola para essa discussão, inclusive com a presença de especialistas. Os próprios alunos apontam a importância de se aprofundar o assunto, que geralmente é comentado apenas entre eles. “Isso mostra que eles querem ir além do bate-papo. Estão cobrando uma produção mais elaborada por parte da escola. Querem mais embasamento, elementos que tragam mais conhecimento”, ressalta Vânia Carneiro, orientadora da pesquisa. “A televisão é a maior fonte de diversão para a maioria dos brasileiros, às vezes, a única”, diz.

Ela lembra ainda que existem dados que mostram o desinteressem dos jovens pelos conteúdos curriculares tradicionais e ressalta a necessidade de os professores se aproximarem das práticas de consumo midiático de seus alunos. Os alunos que participaram da pesquisa têm acesso a computadores, internet e outros aplicativos tecnológicos. Em algumas casas, o número de televisores chegou a quatro.

MALHAÇÃO - A novela Caminho das Índias da Rede Globo, exibida em 2008, virou objeto de estudo depois que a pesquisadora descartou a novela Malhação, uma das mais populares entre os jovens. Segundo Aline, o drama adolescente não trata de temas de cidadania. A trama já apresentou temas polêmicos como a AIDS, gravidez na adolescência e preconceito, mas agora se tornou comercial demais. Ao questionar quais eram as telenovelas mais assistidas pelos alunos, Malhação e Caminho das Índias foram as mais citadas. “Descobri que Malhação não fala sobre direito de cidadania, então identifiquei em Caminho das Índias recortes dentro da história que tinham relevância social e estavam associados à minha pesquisa”, conta Aline.

Para a orientadora Vânia Carneiro é fundamental que o educador conheça o que os jovens estão consumindo e, a partir daí, selecionar cenas e situações que podem despertar o interesse e sensibilizar seus alunos. “É importante fazer uma seleção e discutir o conteúdo e a própria produção do programa de televisão, contribuindo para que o jovem tenha uma visão mais crítica da mídia”, diz.

Contato com Aline: aline.martins.adv@gmail.com
Fonte: Agência de Comunicação da UNB/ Texto: Thais Antonio

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