O Fotógrafo - Uma apaixonante história sobre os Médicos sem Fronteiras

O Afeganistão é um pequeno e pobre país encravado entre a Ásia e o Oriente Médio. Em toda sua história, o povo daquele país nunca conheceu um período de paz. As guerras são parte do presente e do passado do país. É neste território dominado por montanhas íngremes e desérticas, pela fome, pela ignorância e pela violência, que a organização Médicos Sem Fronteiras tem realizado nas últimas décadas um dos seus trabalhos mais marcantes em defesa da vida.

Apesar de extremamente pobre, o Afeganistão tem estado presente no noticiário internacional nas últimas três décadas de forma quase ininterrupta. Entre 1979 e 1989 o país enfrentou uma guerra sangrenta contra a União Soviética. Estima-se que as tropas russas chegaram a reunir um contingente de aproximadamente 120 mil soldados durante o período da campanha. O conflito ficou para a história como o equivalente soviético à derrota americana no Vietnã. Diversos historiadores, inclusive, afirmam que as enormes despesas com a guerra foram fator determinante para o desmantelamento do bloco soviético. Com a retirada do exército russo, o país enfrentou anos de guerra civil, que deixou um saldo superior a um milhão e mortos. A primeira década do século XXI marcaria o início da dominação de uma nova superpotência: os Estados Unidos. O resultado dos sucessivos conflitos é uma população doente e desassistida. A violência e a intolerância praticamente destruíram o já frágil sistema de saúde deixando apenas poucos hospitais atuando de forma precária nas capitais das principais províncias. Para terem acesso a qualquer tipo de atendimento, os afegãos precisam se arriscar em viagens de milhares de quilômetros em zona de guerra. Por isso, a maioria das pessoas que precisam de atendimento acaba morrendo antes de chegar a um posto médico.

Ao longo de todo esse período, os Médicos Sem Fronteiras estiveram presentes no Afeganistão oferecendo atendimento em hospitais e postos avançados em plenas montanhas. O único período em que a organização esteve ausente do país se deu entre 2004/209, após o assassinato de cinco membros da equipe na província de Bagdhis.

Uma reportagem em fotos e quadrinhos
Em 1986, em pleno conflito soviético, a Médico Sem Fronteiras contratou o fotógrafo francês Didier Lefèvre para documentar a atividade da organização no país. Na época a MSF realizava caravanas clandestinas cruzando ilegalmente a fronteiras entre Paquistão e Afeganistão para levar atendimento aos povoados mais distantes da capital Cabul. Médicos e cirurgiões atravessavam quilômetros de desfiladeiros e territórios minados carregando medicamentos e equipamentos em lombos de burros e cavalos.

O resultado da viagem de três meses de Didier ao Afeganistão está reproduzido em uma série de três livros que começaram a ser lançados no Brasil pela Conrad Editora em 2006 e chegam agora ao último volume. Didier faz um relato pessoal e detalhista de tudo o que ele vê e descobre em sua viagem. Os atendimentos médicos, as diferenças culturais, os perigos da viagem... nada passa despercebido do olhar do autor. Ao final, nós temos a oportunidade de aprender não somente sobre a atuação dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, como sobre uma cultura tão complexa e diferente da nossa. Didier aborda as relações de gênero, as difíceis cirurgias feitas sob condições adversas, as belezas surpreendentes do país ainda em guerra, as diferenças religiosas...

“O Fotógrafo” usa a fusão entre fotos e quadrinhos para compor a história. Os desenhos estão a cargo de Emmanuel Guibert, um destacado artista francês que já foi objeto de outro post aqui no Nona Arte (A Guerra de Alan).

Uma grande história, um excelente roteiro e grandes imagens fazem de “O Fotógrafo” um trabalho memorável que entra para a história como um dos mais importantes relatos já produzidos em quadrinhos no mundo. Pena que os aficionados por quadrinhos no Brasil tivessem de esperar quatro anos pela conclusão da história...

O Afeganistão hoje
O site oficial dos Médicos Sem Fronteiras informa que “infelizmente, conforme as necessidades aumentam, se torna cada vez mais difícil para organizações de ajuda neutras e imparciais convencerem todas as partes envolvidas que seu único objetivo é levar ajuda. A distinção que já foi clara entre exércitos, atividades de reconstrução e desenvolvimento e ajuda humanitária se tornou confusa a partir do momento em que ajuda médica se tornou parte do campo de batalha: forças de coalizão internacional cooptaram assistência para iniciativas de “corações e mentes”, ocuparam hospitais e prenderam pacientes em suas camas enquanto grupos armados de oposição fizeram de trabalhadores humanitários e estruturas de saúde alvos por causa da presença de forças internacionais. Para ser aceita por todas as partes envolvidas no conflito, uma organização médica como MSF deve demonstrar, e comunicar claramente, completa imparcialidade, neutralidade e independência, por exemplo, não tomando nenhum partido no conflito, se recusando a aceitar fundos de qualquer governo que trabalhe no Afeganistão e no Paquistão e assegurando que nenhuma força militar, sejam elas nacionais, internacionais ou de oposição, entre no hospital com suas armas.”

Para saber mais sobre os Médicos Sem Fronteiras ou ajudar a organização, acesse o
site oficial da organização.

Confira um filme de divulgação do terceiro e último volume da série:

Fonte: Nosso blog irmão, o Nona Arte (http://quadrinhos-nona-arte.blogspot.com/)

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