Maioria entre 8 e 12 anos está exposta a risco cibernético, diz estudo

Pesquisa avaliou 34 mil crianças em idade escolar de 29 países


Anaïs Fernandes
SÃO PAULO

Mais da metade (56%) das crianças entre 8 e 12 anos está expostas a ameaças digitais, como ciberbullying, vício em videogames e comportamento sexual on-line, em um cenário considerado como "pandemia de risco cibernético".

O resultado é apontado no relatório de impacto DQ 2018, realizado pelo Instituto DQ em parceira com o Fórum Econômico Mundial. O levantamento sobre segurança infantil on-line e cidadania digital divulgado nesta terça-feira (6) avaliou o comportamento de 34 mil crianças em idade escolar de 29 países —o  Brasil não foi incluído. 

O estudo revela que 47% das crianças foram vítimas de ciberbullying no ano passado, 17% tiveram algum comportamento sexual on-line e 10% conversaram com estranhos nas redes e marcaram encontros presenciais. Segundo o relatório, estima-se que 260 milhões de crianças em todo o mundo estão envolvidas com ciber-riscos, e o número deverá aumentar para 390 milhões até 2020.

"Terem sido expostas a esses riscos cibernéticos não indica diretamente que as crianças tenham sofrido danos físicos ou mentais permanentes. No entanto, a exposição contínua em uma idade precoce representa um perigo para o desenvolvimento geral, bem-estar, relacionamentos e oportunidades futuras (...) A pandemia de risco cibernético nos diz que não é uma questão de alguns indivíduos em alguns países, mas um problema global e geracional", avalia o relatório.

Apesar de o risco na rede ser generalizado, o estudo mostra que as ameaças são 33% maiores em economias emergentes. "Isso se deve, em grande parte, à rápida adoção de tecnologia móvel e ao uso de plataforma digital sem preparação adequada das crianças", diz o relatório. 

Segundo a pesquisa, a internet tem penetração mais rápida nesses países, que devem representar 90% de todos os novos internautas mirins até 2020.

Outro dado mostra que as crianças gastam, em média, 32 horas sozinhas na frente de telas digitais em busca de entretenimento —tempo superior ao que passam na escola. E quanto mais horas elas ficam expostas às telas, maiores os riscos.

Quando a criança tem um telefone celular próprio, por exemplo, e usa ativamente as redes sociais, seu tempo de tela sobe 12 horas e ela tem 70% de chances de ser exposta a pelo menos uma ameaça virtual —uma probabilidade 20% maior em comparação com aqueles que não possuem celulares.

E, de acordo com o relatório, mais da meta das crianças pesquisadas acessa a internet de seus dispositivos pessoais —a maioria (60%) recebe o primeiro celular aos 10 anos— e 85% delas usam redes sociais, embora a idade legal oficial para acessar boa parte das plataformas seja 13 anos.

"É interessante notar que a posse do celular sozinha nem sempre leva à exposição de uma criança aos riscos ou ao tempo de tela excessivo. Isso ocorre apenas quando as crianças são também usuários ativos de redes sociais. A quantidade de tempo de tela e a probabilidade de riscos entre crianças que possuem um celular, mas que não são usuários ativos, não são significativamente diferentes das crianças que não têm celular", pondera o estudo.

PREFERÊNCIAS
A atividade on-line preferida das crianças (72%) é assistir a vídeos, seguido por ouvir música e fazer buscas (ambos com 51%), jogar videogame (49%) e conversar (38%).

Assim, não é surpresa que o site mais popular nesta faixa etária seja o YouTube, a rede mais usada por 54% dos entrevistados. Depois aparecem WhatsApp (45%), Facebook (28%), Instagram (27%) e Snapchat (23%). Facebook e Twitter se mostraram significativamente populares entre crianças de países emergentes.

"Estamos começando a entender o papel que os algoritmos desempenham em incentivar as crianças a gastarem mais tempo nessas plataformas, já que os anunciantes se beneficiam do curto período de atenção das crianças e de sua tendência em assistir a vídeos similares repetidamente (...) Além disso, sem classificação de conteúdo adequada ou mecanismos de filtragem efetivos, as crianças são facilmente expostas a conteúdos violentos e inadequados", diz o relatório.

O levantamento ressalta também outras pesquisas que demonstram que o tempo excessivo de tela pode prejudicar o sono, deixar as crianças mais solitárias e agressivas e, por fim, impactar sua saúde física e mental.

SAÍDA
O estudo reforça que "desconectar crianças do mundo digital devido ao medo de ciber-riscos não é uma opção" e que ter acesso ao universo virtual "é um dos direitos básicos das crianças no século 21."

"Não há dúvida de que a tecnologia pode gerar grandes benefícios para as crianças em diversas áreas que vão desde educação e potencial futuro de trabalho ao entretenimento."

A saída, o relatório aponta, é através da educação para uma cidadania digital que ensine as crianças, por exemplo, a disciplinar o uso de tecnologia, compreender como funciona a comunicação on-line e desenvolver raciocínio crítico sobre conteúdos e contatos na rede.

"Devemos agir rapidamente e tomar medidas positivas para ajudar essas crianças a enfrentar riscos cibernéticos em todo o mundo, especialmente nos países emergentes. Desde cedo, o uso de mídia social por parte de nossos filhos através de telefones celulares tem sido excessivo. Precisamos trabalhar em conjunto para ajudá-los a superarem os riscos e tornarem-se cidadãos digitais bem-sucedidos e responsáveis que maximizem seu potencial e minimizem as ameaças", disse Yuhyun Park, fundadora e diretora executiva do Instituto DQ.

Fonte: Folha de São Paulo (06/02/2018)

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